sábado, 25 de maio de 2024

Diferenças entre Kickboxing e Muay Thai

A maioria das pessoas confundem Kickboxing com Muay Thai (também conhecido como Thai Boxing ou ainda Boxe Tailandês) talvez o conflito se dê devido o fato de que no exterior é costume as diversas escolas, professores e praticantes fazerem uma generalização da definição de qualquer modalidade de combate que utiliza chutes (Kick) e socos (Boxing) como “Kickboxing”.

De uma forma geral, a definição correta para a forma de combate esportivo conhecida como Kickboxing seria American Kickboxing, estilo este originalmente chamado de Karate Full Contact, no final dos anos 70. Os pioneiros desta modalidade foram Bill Wallace, Dominique Valera, Joe Lewis e Benny Urquidez, que eventualmente passaram a chamar seu esporte de Kickboxing quando a modalidade entrou em desacordo com o que entendiam como Karate os praticantes que lutavam (e ainda lutam) usando pouco ou nenhum contato.

Existem vários estilos de artes marciais que são chamados, erroneamente, de Kickboxing. O Muay Thai, por exemplo, é um deles. Contudo, não é o único... o Savate (Boxe Francês) o Sàndǎ (Boxe Chinês), entre outros, também são “rotulados” como Kickboxing, obviamente são estilos que se parecem em algumas características (sobretudo o contato total), mas que possuem suas origens, características e histórias próprias.

Embora, para aqueles que praticam, existam diferenças nítidas entre o Kickboxing e o Muay Thai infelizmente isso não é claro para o iniciante. Sendo assim, vamos traçar algumas diferenças básicas com o objetivo de dar ferramentas aos interessados para que possam discernir o que é um e o que é o outro.

Para iniciar as comparações buscando traçar as diferenças entre o Kickboxing e o Muay Thai mencionaremos as origens. O Kickboxing é americano e o Muay Thai é tailandês, ou seja, um surgiu nos Estados Unidos e o outro na Tailândia respectivamente.

O Muay Thai é considerado uma arte marcial e um esporte de combate, enquanto o Kickboxing se encaixa somente na segunda descrição.

O Kickboxing utiliza calça e ou calção para o treinamento e para as lutas, o Muay Thai por sua vez usa somente calções.

As questões técnicas variam em execução e em regras no ringue. O Muay Thai possui uma grande gama de “armas”, das quais não existe praticamente nenhum limite para a utilização. Não obstante, o Kickboxing possui as mesmas armas, porém com muitas restrições em sua utilização. No Muay Thai os cotovelos são usados livremente, no Kickboxing não. No Muay Thai os joelhos são usados sem restrições, no Kickboxing existem formas e regras para a utilização. No Muay Thai o trabalho de clinch, ou seja, de prender o oponente é livre... pode-se agarrar o oponente seus braços, suas pernas e seguir o combate normalmente. No Kickboxing isso não é permitido, pois os lutadores quando entram em clinch são separados e a luta recomeça.

No Muay Thai , com exceção da virilha, as demais partes do corpo são áreas de ataque. No Kickboxing há diversas restrições e áreas específicas que podem ou não ser atacadas.

Kickboxing e Muay Thai utilizam protetor bucal, protetor genital e luvas... porém, no Kickboxing também se utiliza protetor de canela e protetor de pé durante os combates.

No Kickboxing existem modalidades de competição que permitem Full Contact, Semi-contact e Light Contact, Low Kick, Musical forms, K1 Rules... no Muay Thai o contato sempre é pleno.

O Muay Thai possui uma identidade, ou seja, têm técnicas próprias com características próprias, enquanto o Kickboxing é uma espécie de “junção” de técnicas que vão da aquisição dos socos do Boxe Inglês até os chutes oriundos do Karate, Taekwondo, etc...

O Kickboxing tem como padrão a utilização de nomes ingleses (e isso não poderia ser diferente dada sua origem), enquanto o Muay Thai utiliza seu próprio idioma para este fim (contudo, estamos vendo uma grande tendência da utilização de nomes em inglês mesmo por mestres tailandeses).

Entre todas as diferenças que podem ser mencionadas nenhuma é maior do que a tradição baseada nos costumes e crenças que acompanham o Muay Thai ao longo dos anos. Apesar de todas as modernizações que ocorreram na arte marcial tailandesa ela nunca abandonou suas origens... banda musical, música, homenagem ao professor, dança pré-combate, itens e talismãs para dar sorte, elementos baseados em crenças religiosas tailandesas, etc... tornam claras o que é Muay Thai e o que não é.

Há mais alguma forma de identificar onde se pratica o Muay Thai?

Sim, vamos a algumas dicas básicas para que fique claro...

O lugar em questão, que diz ensinar Muay Thai, é chamado de academia? (isso é aceitável), Dōjō? (corre de lá), Khai ou Khai-muay? (você está no lugar certo).

O “cidadão” que está ensinando é chamado de professor? (aceitável), Sensei? (corre de lá), Khru ou Khru-muay? (você está no lugar certo).

Os praticantes não utilizam saudação alguma? (corre de lá), usam o “Osu”?[1] (corre de lá), utilizam o Sawat di? (você está no lugar certo).

O idioma utilizado durante as aulas para denominar as técnicas é o inglês? (aceitável), é o japonês ou coreano? (corre de lá), é o tailandês? (você está no lugar certo).

No lugar de treinamento não há união, não há disciplina, não há respeito? (corre de lá). No lugar de treinamento há união, disciplina e respeito? (você está no lugar certo).

Para finalizar deixamos dois vídeos que definem bem o que é Kickboxing e o que é Muay Thai:

Bill Wallace vs Joe Lewis - Kickboxing

Sudsakorn vs Kotapapi - Muay Thai

Lakon,
Khru Andretta.

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Referências:

Martial What? (What, how and about Martial Arts). Differences between kickboxing and thai boxing. Disponível em: http://www.martialwhat.com. Acesso em 15 de Junho de 2013.

CRUBI DO MÉ (Sábios De Botéco). Você sabe a diferença entre Muay thai e Kickboxing?. Disponível em: http://crubidome.com. Acesso em: 15 de Junho de 2013.

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Nota:

[1] Mais conhecido como “Oss” entre os ocidentais.

Hipertrofia Muscular... Alguns aspectos importantes!

A hipertrofia muscular é um processo não apenas de ordem estética, mas também adaptativo. [...] Muito se fala de hipertrofia muscular, mas muitas vezes de forma errônea e sem levar em conta os diferentes aspectos envolvidos neste processo. Muito mais do que apenas representar um aumento do tamanho dos músculos, a hipertrofia é um processo complexo, envolvido por componentes de treino, descanso, hormônios, dieta e genética.

[...] A hipertrofia muscular tem um tripé em que ela se baseia: treino, descanso e dieta. Se um destes 3 elementos não estiver alinhado, ela não ocorre da forma adequada. Porém, estes elementos são bastante complexos e mudam de acordo com a individualidade de cada um.

(Alguns fatores importantes para que aconteça a hipertrofia muscular:)

[...] 1 – Periodização: [...] Não há nenhuma (outra) forma mais adequada para controlar as cargas de treinamento, para que os estímulos sejam crescentes e (para que) possamos manter o processo adaptativo de forma segura e eficiente. [...] Com uma periodização bem estruturada, será possível prever de que forma os melhores resultados serão alcançados. [...] A principal vantagem da periodização é justamente o controle das cargas, para que estas sejam aplicadas de forma inteligente e com uma progressão adequada.

2 – Estrutura dos treinos: Para que tenhamos melhores resultados, precisamos que o treino seja estruturado de forma correta. (Ou seja, deve haver a) escolha adequada dos exercícios. Não existe uma regra geral, pois cada pessoa apresenta individualidades que fazem com que determinados movimentos sejam mais ou menos indicados. [...] Temos ainda a questão dos movimentos multi e mono articulares, que precisa ser bem pensada dentro da estrutura de treino.

3 – Divisão dos treinos: [...] Ainda temos a organização que iremos usar para dividir (ou não) os diferentes grupos musculares. [...] Um conhecimento apurado do treinador é fundamental, para que ele possa eleger as combinações mais adequadas, para integrar a intensidade e o volume de forma inteligente e conseguir potencializar os resultados.

4 – Dieta adequada às suas necessidades: Nada de ficar copiando dieta de seu colega ou conhecido. Dieta para a hipertrofia precisa ser específica, dentro de suas necessidades e que contemple cada fase da periodização. Todos nós temos necessidades específicas e precisamos de uma boa estrutura dietética para ter um processo hipertrófico melhorado. [...] Uma boa dieta é pensada também sob a perspectiva hormonal, já que os alimentos interagem diretamente com os hormônios. [...]

5 – Descanso adequado: Nada melhor para a supercompensação do que uma boa noite de sono. Durante o sono, há um complexo sistema hormonal e metabólico que fará com que você tenha uma melhor recuperação de todos os elementos e com isso, consiga mais hipertrofia muscular. Os principais hormônios responsáveis pelo anabolismo a testosterona e o GH (hormônio do crescimento), são produzidos durante o sono.

[...] 6 – Proteínas de alto valor biológico: Para que consigamos bons resultados em termos de hipertrofia muscular, precisamos de uma dieta equilibrada e de um descanso adequado. [...] A ingestão de uma boa quantidade de proteínas de alto valor biológico (é necessária). As proteínas são formadas por aminoácidos e estes, são responsáveis pela reconstrução muscular.

7 – Sem dieta sem resultados: É impossível conseguir bons resultados em termos de hipertrofia muscular, sem uma ingestão adequada de alimentos ricos em proteínas [...]. As principais fontes de proteína são os alimentos de origem animal, como carne, leite e derivados e ovos. Existem opções vegetais com boas quantidades de proteína, mas o seu valor biológico é reduzido, se comparado as de origem animal. Também não adianta tomar apenas suplementos proteicos como whey (protein) para suprir uma dieta deficiente, esses suplementos ajudam sim, mas são um complemento.

[...] 8 – Quantidade de proteínas: A quantidade de proteínas a ser ingerida para obter bons resultados em termos de hipertrofia muscular é bastante variada. No geral, indica-se de 1 a 1,5 gramas por quilo corporal para iniciantes e 1,5 a 3 gramas para pessoas bem treinadas.

[...] 9 – Proteínas apenas não basta: Engana-se quem pensa que para a hipertrofia muscular basta a boa ingestão de proteínas. Carboidratos e gorduras são fundamentais para a boa recuperação dos exercícios resistidos. [...] (Porém,) os ácidos graxos precisam ser de qualidade, para que possam cumprir sua função. Os carboidratos, devem ser de preferência de baixa glicemia, para que não haja um aumento do percentual de gordura e haja um processo de supercompensação mais adequado.

10 – Não esqueça das vitaminas: [...] Temos as vitaminas e minerais, que são os chamados nutrientes reguladores. Eles devem ser ingeridos de forma consistente e com alta qualidade nutricional. Para isso, é preciso que sejam inseridos na dieta frutas, verduras e legumes. Como estes 3 grupos de alimentos contém também proteínas, carboidratos e gorduras, é muito importante que sua utilização seja pensada em termos nutricionais e com equilíbrio.

11 – Dieta específica: [...] Temos a necessidade de uma dieta específica, dentro de nossas individualidades. Nada de sair copiando dieta de qualquer um. Seu corpo é único e precisa de uma abordagem individual. Para isso, consulte um bom nutricionista.

12 – O descanso é outro ponto fundamental: Em raros casos, treinar todos os dias é indicado. Se você não for atleta e quer apenas resultados funcionais e estéticos. Geralmente usamos de 5 a 6 treinos por semana e em alguns casos nem isso. Ter pelo menos um dia de descanso total, sem treino, é fundamental para que ocorra a supercompensação. Além disso, (cerca de) 8 horas de sono também são altamente indicadas para termos melhores resultados.

[...] Tratar da hipertrofia muscular é um tema complexo, amplo e cheio de especificidades. No geral, você pode ter um parâmetro amplo de como ela acontece e de que forma alcança-la, [...]. Para que ocorra um processo adaptativo, precisamos de estímulos externos e um cenário propício a adaptação.

Falando especificamente da hipertrofia muscular, existe um processo, baseado em estímulo-recuperação, para que ela ocorra. Basicamente, o treino de musculação bem aplicado promove os estímulos que quebra a homeostase de nosso corpo [...]. Caso tenhamos uma alimentação adequada, com oferta dos nutrientes necessários (proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais) e um período de descanso, os músculos se adaptam a este estímulo, através de um processo de aumento do tamanho das células musculares.

[...] Primeiramente, estoques de substratos e toda a estrutura muscular são desgastados com o treino. Se houver um correto descanso e uma alimentação adequada, o corpo irá não apenas reorganizar seu metabolismo, repondo o que foi gasto, mas sim aumentando os níveis destes componentes. (Então), da próxima vez que o corpo for novamente colocado em uma situação de um estímulo ao qual não está adaptado, ele estará mais apto. Esse fenômeno é facilmente visto no início dos treinos, quando a supercompensação é mais intensa.

Quanto mais bem treinado for o indivíduo, mais difícil será de termos melhores resultados em termos de supercompensação. Não que seja impossível obter ganhos em pessoas bem treinadas, mas estes são mais lentos, demorados e complexos.

Mas independentemente do caso, para que ocorra a hipertrofia muscular, precisamos de estímulos adequados e cada vez mais crescentes. Para ter um bom resultado, o ideal é contar com a ajuda de um bom treinador, que irá montar uma periodização adequada às suas necessidades e saberá corrigir os erros que inevitavelmente aparecerão, além de um bom nutricionista, que saberá prescrever a dieta mais adequada. [...]

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Referências:

LENZI, Sandro. Hipertrofia Muscular: 16 dicas de treino e dieta para ter Resultados! Disponível em: <https://treinomestre.com.br>. Acesso em: 1 de outubro de 2022.

O que é Arte Marcial?


Existem dois tipos de Artes Marciais:
  1. Artes Marciais "ocidentais";
  2. Artes Marciais "orientais".
E ambas apresentam conceitos completamente diferentes.


Artes Marciais "ocidentais"

O nome "marcial" vem do deus romano da guerra, Marte. "Marcial" se refere a tudo que tenha relação com combate, militarismo, guerra, campo de batalha, confrontos, "belicismo".


Artes Marciais "orientais"

"Artes Marciais" para o povo oriental é originalmente expresso através dos seguintes ideogramas 武術 (leem-se estes dois ideogramas Wǔ-shù em Chinês e Bujutsu em japonês). Traduzindo literalmente os dois ideogramas, este significam "Artes Militares" (em qualquer um dos dois idiomas mencionados).


Mas o que significa "Militarismo" no conceito oriental?

Temos então que decompor o ideograma 武, Wǔ / Bu, "Militarismo".

O ideograma 武 está dividido em dois outros ideogramas (transcrições em Chinês e Japonês respectivamente):
  • 戈 Gē / KA - alabardas, machados, armas;
  • 止 Zhǐ / SHI -
    parar, deter.
Adicionando o segundo ideograma 術, shù / Jutsu, "Arte" - temos a "ideia" do que "Artes Marciais" significam para o povo oriental. Ou seja, por "arte militar" os orientais entendem "uma forma de para as armas dos inimigos" ou "uma forma de parar um combate ou hostilidades".

Ou seja, a "arte marcial oriental", visa evitar o combate ao máximo, mas estando preparado para usar o poder bélico para manter a paz social. 

Historicamente, quando os "Jutsu" passaram a "Dō", o militarismo Samurai antigo, característico dos séculos anteriores, foi definitivamente extinto, passando o treino marcial a ser feito de forma a dar maior difusão e alcance popular das "Vias Militares" / "Caminhos militares" (as tão faladas e pouco entendidas "Budō"), mantendo, de certa forma, a ordem social vigente no Japão da época.

As "Artes Marciais" nos dias de hoje devem ser treinadas como via de aperfeiçoamento humano.

Osu!
Denis Andretta

Iaidō... a “arte de desembainhar a espada”

As artes japonesas com espada provavelmente começaram com Iizasa Chōisai Ienao[1], o fundador do Tenshin Shōden Katori Shintō-ryū[2]. Esta escola incluía o uso de muitas armas, tais como espada, bastão, lança e faca. Uma parte de seu currículo era o saque rápido da espada, seja em autodefesa ou como um ataque preventivo (DROSSOULAKIS, 2022).

No entanto, foi a metodologia de prática com a espada criada por Hayashizaki Jinsuke Minamoto Shigenobu[3] que deu origem ao estilo de esgrima conhecido primeiramente como Battō-jutsu[4], literalmente a “arte de desembainhar a espada”, que mais tarde foi denominada Iaijutsu[5], e que hoje é chamada de Iaidō (PELLMAN, 2010; DROSSOULAKIS, 2022).

Iaidō é um termo que foi criado por Nakayama Hakudō[6] (1869-1952), fundador do estilo Musō Shinden-ryū[7]. Embora este não seja a tradução da palavra, o Iaidō refere-se a “arte de desembainhar a espada” de forma rápida, precisa e eficiente. Uma arte que consiste na prática de conjuntos de kata[8][9] que permitem ao praticante reagir de forma apropriada a diferentes situações (ALVARENGA, 2017; NITEN, 2019; DROSSOULAKIS, 2022).

A expressão Iaidō é formada por três ideogramas, 居合道, e apesar de referir-se ao "método de desembainhar a espada", o sentido "literal" da palavra não é esta. Vejamos o significado dos kanji:
  • 居【い】 I: ser, existir;
  • 合【あい】AI: ajustar, adequar, juntar, unir;
  • 道【どう】DŌ: via, caminho, método.
Como os kanji[10] são "ideogramas" e grafar ideias não é uma tarefa fácil, vamos a algumas interpretações possíveis.
  • Via, caminho, método para ajustar a existência;
  • Via, caminho, método para adequar a existência;
  • Via, caminho, método para a unidade do ser.
Como uma tradução literal pode vir a deixar escapar o sentido que o vocábulo abarca, existem interpretações e adaptações que contemplam seu significado de forma mais fidedigna. O kanji ‘I’, 居, também pode ser lido como ‘i(tte)’ e ‘AI’, 合, como ‘a(wasu)’, termos encontrados na frase “Tsuneni itte kyū ni awasu”[11], ou seja, “Estar sempre pronto e adaptar-se rapidamente”, uma boa forma de expressar o estado de alerta que permite antecipar situações inesperadas, agindo de acordo com a necessidade (TSURUGI NO MICHI, 2012; AIZEN, 2022).

Sendo assim, Iaidō pode ser traduzido como uma “via, caminho ou método para estar sempre pronto e adaptar-se rapidamente (a qualquer situação)”.

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Referências:

AIZEN, Dojo. Porque fazer Iaido ou Kenjutsu. Disponível em: <http://www.aizen.org/porque-fazer-iaido-ou-kenjutsu>. Acesso em: 15 de setembro de 2022.

ALVARENGA, Luiz Gonzaga De. Enciclopédia Ilustrada De Artes Marciais E Vida Natural V 2. Clube de Autores, 19 de abr. de 2017 - 162 páginas.

DROSSOULAKIS, S. G. Muso Jikiden Eishin Ryu; the ryu outline. Disponível em: <http://furyu-dojo.org/wp-content/uploads/2014/01/2d_MJER_the_ryu.pdf>. Acesso em: 20 de agosto de 2022.

NITEN, Instituto. Iaijutsu e Iaido - Dois nomes para a mesma arte. Disponível em: <http://www.niten.org.br/iaido-e-iaijutsu.htm>. 1993-2019.

PELLMAN, Sensei. The History of Eishin-Ryū. Disponível em: <https://seishin-kan.org/mjer.html>. Acesso em: 01 de setembro de 2010.

TSURUGI NO MICHI, O Espírito Marcial. CONSIDERAÇÕES SOBRE KENDO E AS ARTES DA ESPADA JAPONESA. Disponível em: <https://espiritomarcial.wordpress.com/iaido/>. Acesso em: 28 de Fevereiro de 2012.

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Notas:

[1] 飯篠長威斎家直.
[2] 天真正伝香取神道流.
[3] 林崎甚助源の重信.
[4] 抜刀術.
[5] 居合術.
[6] 中山博道.
[7] 夢想神伝流.
[8] 型.
[9] 形.
[10] 漢字.
[11] 常に居って急に合わす.

Kenwa Mabuni, Fundador

Fundador
Kenwa Mabuni
1889 (Meiji 22) - Nasce em 14 de Novembro, em Shuri, Prefeitura de Okinawa.

1903 (Meiji 36) - Por volta dos 14 anos, é oficialmente apresentado ao Sensei Ankō Itosu, especialista em Shuri-te.

1908 (Meiji 41) - Aos 19 anos, é apresentado, por Chōjun Miyagi, para Kanryō Higaonna com objetivo de estudar o Naha-te. Além disso, depois terminar os estudos tornou-se policial e aprendeu Bō-jutsu estilo Soeishi, Sai-jutsu e Bō-jutsu do Ryūkyū Kobudō.

1915 (Taishō 4) - Aos 26 anos, recebe seu "certificado"[1] de maestria em Karate dos Sensei Itosu e Higaonna.

1916 (Taishō 5) - Aos 27 anos, estabelece um Dōjō em sua casa.

1918 (Taishō 7) - Estabelece a "Karate Kenkyū Kai"[2]. Mais tarde, renomeada "Okinawa Karate Kenkyū Kurabu"[3].

1929 (Shōwa 4) - Em Abril, aos 41 anos, muda-se para Ōsaka, Distrito de Nishinari, próximo a Tsurumibashi, onde abre um Dōjō e trabalha na difusão do Karate.

1934 (Shōwa 9) - Estabelece o Dōjō de Karate "Yōshūkan" na cidade de Ōsaka. Ocasião em que usa as iniciais dos nomes dos Sensei Itosu e Higaonna para formar o nome "Shitōryū".

1939 (Shōwa 14) - Em Março, registra o "Shitōryū" na Dai Nippon Butoku-kai.

1939 (Shōwa 14) - Em Julho, recebe o título "Renshi"[4] em Karate da Dai Nippon Butoku-kai.

1952 (Shōwa 27) - Morre em 23 de Maio, aos 63 anos.

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Referências:

ZEN NIPPON KARATEDŌ RENMEI - SHITŌKAI. 開祖 摩文仁 賢和 (Fundador Kenwa Mabuni). Disponível em: <http://www.karatedo.co.jp/shitokai/>. Acesso em: 20 de Março de 2016.

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Notas:

[1] 免許 [めんきょ] Menkyo (mên-quíô) Licença, permissão, certificado. 

[2] 唐手研究会 [からてけんきゅうかい] Karate Kenkyū Kai (cárátê-quênquíúú-cáí) Associação para pesquisa do Karate. 

[3] 沖縄空手研究倶楽部 [おきなわからてけんきゅうくらぶ] Okinawa Karate Kenkyū Kurabu (ôquínáúá-cárátê-quênquíúú-cúrábú) Clube para pesquisa do Karate de Okinawa. 

[4] 錬士 [れんし] Renshi (rên-xí) Instrutor, treinador.

Shi ou Yon, Shichi ou Nana?

Os praticantes de Karatedō dos diversos estilos estão acostumados às nomenclaturas em japonês utilizadas nas aulas. Infelizmente, não há uma padronização geral para estas expressões, ou seja, em alguns casos os nomes utilizados para descrever o mesmo movimento podem ser diferentes dependendo do estilo praticado.

Por isso, deixamos claro que Shi, Yon, Shichi e Nana não tem relação com diferenças de expressões utilizadas pelos diferentes estilos, ou seja, não se usa Shi no estilo “A” e Yon no estilo “B”, por exemplo.

Sendo assim, se estas expressões não tem relação com as diferenças dos estilos, quando devemos usar Shi ou Yon, Shichi ou Nana?

Alguns estudiosos afirmam que a utilização depende de que se quisermos dar um ar mais "nativo" (Yon) ou mais genérico (Shi) uma vez que os japoneses, antes de importarem a escrita Chinesa (Kanji), tinham os seus próprios números nativos, são eles: 

1. Hitotsu
2. Futatsu
3. Mitsu
4. Yotsu
5. Itsutsu
6. Mutsu
7. Nanatsu
8. Yatsu
9. Kokonotsu
10. Tō

Depois de importarem a escrita chinesa, a forma de leitura chinesa dos números foi incorporada à leitura:

1. Ichi (em chinês: Yī)
2. Ni (em chinês: Èr)
3. San (em chinês: Sān)
4. Shi (em chinês: Sì)
5. Go (em chinês: Wǔ)
6. Roku (em chinês: Liù)
7. Shichi (em chinês: Qī)
8. Hachi (em chinês: Bā)
9. Ku / Kyū (em chinês: Jiǔ)
10. Jū (em chinês: Shi)

Contudo, uma vez que a pronúncia da palavra "morte" também é "Shi", esta palavra é normalmente evitada pelos japoneses.

Por isso o melhor, por exemplo, é usar Yon ou Yonkyū[1]... mas isso não é uma regra obrigatória. 

O fato é que na realidade qualquer uma das formas que apresentarmos: Yon ou Shi, Nana ou Shichi... estão corretas e podemos muito bem utilizá-las à vontade.

A verdade é que esse assunto ainda está em discussão nos meios acadêmicos e parece não ter um fim em vista.

Portanto, não há ainda uma regra que estabeleça quando usar uma forma ou outra.

Apesar disso, alguns casos já estão estabelecidos como corretos... exemplos disso são os casos de utilizar Yondan[2] e Shichidan[3] ao invés de Shidan e Nanadan.

Osu!
Denis Andretta.

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Referências:

GOULART, Joséverson. Quando usar Shi ou Yon, Shichi ou Nana? Disponível em: . Acesso em: 9 de Abril de 2009.

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Notas:

[1] Yonkyū [四級] – 4º kyū, 4º grau, 4ª classe. 
[2] Yondan [四段] – 4º Dan, 4º nível. 
[3] Shichidan [七段] – 7º Dan, 7º nível.

Japão, o poderoso agressor

Japão
O Japão tem a tradição de que cada vez que um novo imperador reina, um (novo) nome é dado àquela época. O período de 1868 até 1945 pode ser dividido em três eras: "período Meiji", o "período Taishō" (e) o "período Shōwa"[...]. 

Entre a Restauração Meiji de 1868 e a derrota do Japão em 1945, o país transformou-se com uma velocidade incrível. Esse período foi caracterizado pelas muitas guerras instigadas pelo Japão. 

Em três ou quatro gerações, o Japão evoluiu para um nível de desenvolvimento que a Europa levou cerca de quinhentos anos (para atingir). O Japão aboliu o sistema feudal, estabeleceu uma forma democrática e autoritária de governo, criou uma nação industrial moderna, conquistou e finalmente perdeu um enorme império.

Precisamos de uma compreensão clara desse período, porque ele coincide com a história moderna do Karate [...].


O período Meiji (1868-1912)

A Restauração Meiji de 1868

Para se ter uma ideia geral sobre a história moderna do Japão, uma breve nota deve ser feita sobre a Restauração Meiji, pois foi um importante ponto de virada na história do Japão. Devido à pressão do Commodore Perry [...], o Japão teve que se alterar drasticamente. Acabou com os 250 anos da ditadura militar dos Tokugawa (徳川), restaurou o poder do imperador e transformou uma sociedade feudal em uma nação moderna [...]. Tudo isso aconteceu em apenas algumas gerações.

Commodore Perry chegou com seus navios [...] em 1853 no Japão. Logo depois, forçaria o Shōgun Tokugawa (将軍) a abrir as fronteiras do Japão. Até então, as fronteiras do Japão eram fechadas e o contato com o exterior era proibido, com a pena de morte como punição. O único contato possível era através de Dejima (出島), uma pequena ilha criada artificialmente na baía de Nagasaki (長崎).

Com a abertura de suas fronteiras, o Japão foi forçado a aceitar tratados "desiguais" e, em consequência, o Japão desenvolveria um complexo de inferioridade. Em reação, o Japão buscou uma rápida mudança para alcançar o Ocidente e se livrar desses tratados [...]. De fato, (neste período), o Japão se considerava um fracasso e queria descartar tudo que era tipicamente "japonês". Este foi um golpe nas artes marciais.

A partir de então, a história do Japão pode ser vista como uma garantia contínua de si mesmo, tentando elevar-se a um nível igual ao do Ocidente e, finalmente, tentando superá-lo. Os líderes queriam construir uma nação unida, próspera e forte. Eles conseguiram isso com velocidade notável e usaram todos os meios necessários para atingir seu objetivo.
Os novos líderes exploraram e, quando lhes convieram, inventaram uma visão particular do caráter, da cultura e da história japonesas como um meio de impulsionar o programa de reformas extremamente ambicioso que consideravam necessário para equipar o Japão para competir com sucesso com as nações do Ocidente.
O Japão olharia para o Ocidente em busca de inspiração para modernizar seu país. Durante o processo de modernização, o desenvolvimento militar foi mais enfatizado. Na década de 1890, mais de trinta por cento dos gastos governamentais seriam destinados às forças armadas. Quase tudo seria inspirado no Ocidente. O recém-introduzido sistema de recrutamento, especialistas militares ocidentais, os uniformes, faziam parte do novo Japão. No entanto, o código Samurai permaneceu vivo, (em) uma versão idealizada (que) foi usada pelos controladores para espalhar valores marciais. Este código, juntamente com a veneração ao imperador, seria de suma importância para a moral [...] dos japoneses durante todas as guerras seguintes.

O Tokugawa bakufu (幕府) foi derrubado por Chōsu e Satsuma, depois de terem governado o Japão por cerca de dois séculos e meio. O palácio imperial foi transferido para o nova capital Edo (江戸), o centro do poder durante os últimos dois séculos. O nome Edo foi mudado para Tóquio (東京).

O período entre 1868 e 1912 é visto como um período durante o qual o imperador, oligarcas e burocratas lançaram as bases para um Japão moderno. Mutsuhito (睦仁) nasceu em 1852. Ele se tornaria o imperador Meiji de 1867 até sua morte em 1912. O poder real estava com a oligarquia Meiji, mas o imperador Meiji estaria de perto envolvido em muitos eventos políticos importantes, por exemplo, a promulgação da Carta Juramento e os Rescritos para Educação e Soldados. (O imperador) também daria ao seu povo Constituição Meiji. Esta constituição fortaleceria sua posição política enquanto mesmo tempo criava espaço para um governo representativo [...].

Durante o reinado do imperador Meiji, o Japão sofreria mudanças extremas, mudando assim de um status de semi-colônia para uma nação moderna capaz de derrotar duas grandes potências: a China e a Rússia [...]. 


A Guerra Sino-Japonesa: 1894-1895

Esta guerra começou em solo coreano, [...] com a revolta de Donghak (동학) em 1894. Esta revolta teve como alvo a presença de potências estrangeiras e a pobreza na Coréia. China e o Japão responderam ao apelo do tribunal coreano por ajuda [...]. Os japoneses foram mais fortes por causa da modernização implementada durante as duas últimas décadas. Eles marcharam para o norte para Pyeongyang (평양), até na península de Liáodōng (遼東). Em 1895 a guerra com a China tinha acabado e o Tratado de Shimonoseki foi forçado sobre os chineses. A China teve que reconhecer a "independência" de Coréia, deixando-a vulnerável ao Japão. [...] A China teve que entregar seu controle sobre a Península de Liáodōng, os Pescadores e Táiwān (台灣) para o Japão e abrir mais portos. Devido a tudo isso, o imperialismo do Japão teve um grande impulso. No entanto, França, Alemanha e Rússia logo intervieram e a Península de Liáodōng teve que ser devolvida para a China [...].


A Guerra Russo-Japonesa: 1904-1905

As ambições imperiais da Rússia e do Japão colidiram com um conflito sobre a Coreia e a Península de Liáodōng, (que) foi tomada pelo Japão da China na Guerra Sino-Japonesa, mas devido à intervenção da Rússia e outros dois países, o Japão perdeu o controle sobre essas áreas. A área tornou-se uma zona procurada pelas duas nações imperialistas. O Japão, como anteriormente com a China, atacou primeiro. Conquistou Port Arthur e os russos foram expulsos por terra para Shěnyáng (沈阳). A batalha decisiva ocorreu no Estreito de Tsushima (対馬), onde os japoneses destruíram a frota russa do Báltico.

[...] Esta foi a primeira vez que uma guerra foi vencida por uma nação asiática sobre uma nação europeia [...].

O Japão havia vencido, mas estava exausto e, portanto, disposto a aceitar a oferta de mediação pelo presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt. [...] A Rússia teve que desistir de várias áreas, como a parte sul de Kùyè (庫頁). Também teve que aceitar a esfera de influência do Japão na Coréia. O Japão fez a Coreia um protetorado e anexado em 1910. Assim, o Japão estava reforçando sua posição no continente. 


O período de Taishō (1912-1926)

A [...] “democracia de Taishō” (foi o) nome romantizado (que) foi dado ao período de 1912 até 1926, no qual o imperador Taishō reinou. O novo imperador, políticos e outros no poder fizeram esforços para ampliar sua política. Isto aconteceu sob a crescente pressão por reformas democráticas. Este período foi caracterizado pela libertação, com o recuo gradual da oligarquia, e pela repressão [...].


A Primeira Guerra Mundial

O Japão participou da Primeira Guerra Mundial do lado dos Aliados. O Japão declarou em 1914 guerra na Alemanha. Devido ao foco da guerra que estava sendo travada no Ocidente, o Japão foi capaz de apoderar-se das possessões coloniais alemãs no Oriente. Tomou ex-colônias da Alemanha na China e no Pacífico e pressionou a China. Nas infames 21 demandas, o Japão exigiu controle não apenas sobre Shāndōng (山东), mas também sobre outras partes da China, a Manchúria e a Mongólia. Estas exigências foram fortemente reprovadas pela China e pelo Ocidente e foram percebidas como uma declaração clara das ambições imperiais do Japão.

Em 1918, o Japão foi convidado para ser um dos "cinco grandes" na conferência de Versalhes. Estas possessões sobre Shāndōng e as antigas ilhas do Pacífico alemãs foram ratificadas. Isso também recebeu um assento na Liga das Nações.

Embora a guerra tivesse acabado, o Japão logo encontrou outro motivo para ação. A queda do Czar e a revolução Bolchevique na Rússia eram uma boa desculpa para enviar tropas para a Sibéria. As forças japonesas triplicaram a quantidade dos enviados pelos aliados. Uma vez que o Japão colocou suas forças, manteve-as até 1922, ignorando assim a pressão internacional para retirar.


O período Shōwa (1926-1989)

Em 1927, houve uma grave crise financeira. Os líderes procuraram os militares para lidar com a situação. Seria um período em que os militares, em nome do imperador, usariam o poder real. Uma fotografia do novo imperador, em uniforme militar, foi colocada nas escolas. As escolas tornaram-se novamente os meios para criar os cidadãos desejados. Ex-oficiais do exército serviam como instrutores militares nas escolas.

Foi em 1927 que Tanaka, general aposentado do Exército, se tornou primeiro-ministro. Ele iria enviar o Japão para um curso militarista. O primeiro-ministro iria explorar o súbito ataque do Japão à China e traria toda a população sob controle. Oposição não era tolerada. Com a Lei de Preservação da Paz, quase qualquer desculpa era válida para suprimir certos grupos. Todo político de "esquerda" foi preso ou forçado a afastar-se da vida pública. Este período foi caracterizado pela supremacia militar, resultando finalmente em guerra total.


O Incidente da Manchúria

Foi um incidente encenado perto da capital da Manchúria. Este seria o primeiro passo das ações independentes de uma parte do exército imperial. Conquistaria toda a província e criaria o estado fantoche de Manchūkoku [滿洲國] [...].

Em 1931, perto da cidade de Shěnyáng, a ferrovia Sul-Manchúria foi destruída. A ferrovia era propriedade dos japoneses. Os chineses foram culpados por este incidente, e essa desculpa foi usada para o exército japonês empreender ações nessa área. As tropas chinesas acabaram sendo forçadas a recuar. Alguns veem este evento como as sementes iniciais do guerra com a China. O governo japonês ordenou que o exército parasse suas ações, mas perdeu o controle. Não seria a última vez que o exército de Guāndōng (关东) no continente iria ignorar ordens do governo. O exército era, de acordo com a constituição Meiji, responsável apenas por suas ações perante o imperador. Informado pelo ideais expansionista de sociedades secretas como a Black Dragon Society, seus oficiais estavam ansiosos para promover interesses nacionais por conquista, independentemente das ordens dos partidos políticos. [...] Portanto, era quase impossível que o governo tivesse controle sobre o exército. Sem o consentimento do governo, o exército de Guāndōng em Manchúria pediu apoio do exército localizado na Coréia que respondeu positivamente. Por isso, o governo perdeu completamente o controle sobre seu exército. Então eles decidiram aprovar as ações, que já haviam começado, contra os chineses.

O exército de Guāndōng logo tomou posse de toda a região da Manchúria. Em 1932 a Manchúria inteira estava sob controle e se transformou em um estado fantoche de Manchūkoku.

Os chineses reagiram com um boicote aos produtos japoneses. Novamente os japoneses fingiram incidente. Desta vez, era para ser um ataque dos chineses aos cidadãos japoneses. No começo de 1932, os japoneses começaram a bombardear Shànghǎi (上海) em vingança dos chamados incidente. Tropas terrestres japonesas invadiram a cidade. Os chineses logo terminaram boicote. [...] O código do Bushidō (武士道) foi difundido entre os soldados. Durante o incidente em Shànghǎi, por exemplo, foi relatado o seguinte: o código vivia e morria com eles: Durante a batalha, um jovem oficial foi ferido. Sua divisão recuou e o deixou para trás. Ele foi encontrado e suas feridas tratadas por um chinês. O policial sentiu muita vergonha por sua divisão não ter vencido. Ele voltou para o lugar onde foi encontrado. Ali abriu a barriga, da mesma forma que um desonrado Samurai faria. Este exemplo era vista como uma representação perfeita dos guerreiros japoneses.

Em 1932, um grupo de jovens oficiais matou o primeiro-ministro Inukai (犬飼). O golpe falhou, mas foi o ponto de partida das páginas negras na história do Japão. Os dez seguintes anos foram chamados de “vale escuro” (Kurai tanima, 暗い谷間) e marcaram um período de extremo nacionalismo. Tudo o que não coincidia com as ideias dos responsáveis era suprimido. Nenhuma crítica ao militarismo e o culto do imperador eram tolerados. O Japão estava se preparando para a guerra total.

A invasão da Manchúria foi condenada pelo Ocidente. Mas eles não impuseram sanções militares ou economicamente. O Japão concluiu que não tinha motivos para temer qualquer coisa do Ocidente e decidiu se retirar da Liga das Nações em 1933. Os japoneses consideraram suas ações imperiais semelhantes às do colonialismo ocidental do passado. A passividade do Ocidente de fato encorajou os japoneses a eles poderiam se safar com suas ações.

O exército de Guāndōng, desta vez oficialmente apoiado, mudou-se para a província chinesa de Rèhé (热河). Em 1933, o exército de Guāndōng invadiu a província de Héběi (河北), perto de Běijīng (北京). Novamente o A Liga das Nações não respondeu às ações do Japão na China.

Em 1936, houve um golpe no Japão por (parte de) jovens oficiais. Eles quase conseguiram matar Primeiro Ministro Okada (岡田), [...] exigindo um governo direto do imperador. O imperador Hirohito (裕仁) desaprovou essas ações e os rebeldes tiveram que se render. O golpe falhou, mas deixou o Japão nas mãos dos militares. Com isso veio uma nova política agressiva para a China. No mesmo ano, o Japão assinou um tratado com a Alemanha contra o União Soviética.


A guerra contra a China

Em 1937, uma guerra começou entre o Japão e a China, pela segunda vez. Isso foi durante o período em que os militares assumiram o controle no Japão. O gatilho foi o Incidente Ponte Marco Polo. Esse incidente foi de fato precedido por seis anos de agressão japonesa na China, e resultaria em guerra total entre as duas nações. Essa guerra se tornaria parte da guerra na Europa, a Segunda Guerra Mundial. Este incidente não foi criado como o incidente de Shěnyáng. Houve um pequeno confronto armado entre chineses e japoneses de pouca importância. Mas foi a desculpa perfeita para os nacionalistas japoneses lançarem uma guerra total contra a China. O exército de Guāndōng ganhou, tomou Běijīng sob controle e mudou-se para Shànghǎi. Após sete semanas de intensos combates, eles invadiram a cidade. Como os chineses não desistiram facilmente, os japoneses se mudaram para Nánjīng (南京), o centro do nacionalismo chinês, e o conquistaram em 1937. A vitória foi seguida por um banho de sangue que durou cerca de um mês. O massacre foi tão terrível que até os nazistas se queixaram da sua crueldade.

O Ocidente não reagiu novamente. O Japão sentiu-se livre para lidar como bem queria porque não temia mais o Ocidente. O Japão estava satisfeito com sua conquista e estava disposto a negociar a paz. A Alemanha nazista lideraria as negociações. Durante as conversas, ficou claro que o Japão exigia uma rendição incondicional da China, mas o Império do Meio recusou. O Japão ficou furioso e imediatamente partiu para a ofensiva. Foram necessários o norte da China e todos os principais portos marítimos da costa leste. O centro do país foi deixado bastante sozinho. Os japoneses não tinham poder humano suficiente para lidar com uma área tão grande. O Japão não poderia vencer a guerra, mas não estava disposto a negociar.

A tendência expansionista foi então direcionada para a Rússia. Como a história tem a tendência a se repetir, o exército de Guāndōng começou o fogo. O conflito na Mongólia foi decidido depois de mais de um mês. Os veículos armados soviéticos derrotaram a 23ª divisão do exército japonês e o exército de Guāndōng decidiu negociar a paz.


A Segunda Guerra Mundial

As nações europeias estavam muito ocupadas lutando entre si, então o Japão aproveitou a oportunidade para tomar as propriedades europeias no Extremo Oriente. A conquista das Índias Orientais Holandesas e da Indochina Francesa tornou o Japão menos independente da importação da América.

Em 1940, o Japão tornou-se parte dos 10 anos de tripla aliança com a Alemanha e a Itália. O Japão esperava que essa ação afugentasse os Estados Unidos, mas alcançou o efeito oposto.

Em 1941, os Estados Unidos pararam as exportações de petróleo para o Japão. Os japoneses consideraram isso como uma declaração de guerra econômica. Este foi o primeiro passo efetivo feito pelo Ocidente como uma reação contra as ações do Japão no continente asiático. Em 7 de dezembro de 1941, ocorreu o infame ataque a Pearl Harbor. O Japão queria romper a vontade americana com esse ataque surpresa, mas conseguiu o oposto. [...] Eles queriam nada menos que uma rendição incondicional. A batalha de Midway seria o ponto de virada da Guerra do Pacífico em 1942. Isso seria seguido por muitas batalhas sangrentas nas ilhas do Pacífico. Durante este período de ilha em ilha, os americanos foram confrontados com bravura japonesa. [...] O Japão sofrendo de falta de materiais e energia aplicou o Kamikaze (神風). Esses pilotos colidiriam com seus aviões no inimigo, causando sérios danos. Esses pilotos foram uma grande homenagem ao código do Bushidō.

Os Estados Unidos decidiram usar as primeiras bombas atômicas em Hiroshima (広島) e Nagasaki (長崎) depois que o governo japonês não respondeu à declaração de Potsdam. Os soviéticos invadiram Manchūkoku e a Coréia. Em 15 de agosto de 1945, o Japão aceitou a declaração de Potsdam e se rendeu. (SWENNEN, 2006, p. 14-23)

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Referências
  • John Benson, Takao Matsumura, Japan 1868-1945: From Isolation to Occupation, p.1;13;17;26;30;35;38;39;41;82. 
  • Edward Adriaensens, Dimitri Vanoverbeke, Op Zoek naar het Nieuwe Japan, p.12;18;32;226. 
  • Martin Collcut, Marius Jansen and Isao Kumakura, Cultural Atlas of Japan, p.190;192;194;202;205. 
  • Andrew Wiest, Gregory Louis Mattson, De Oorlog in de Stille Oceaan, p.10;14;16;17;21-25. 
  • Michael A. Barnhart, Japan Prepares for Total War: The Search for Economic Security, 1919-1941, p.91. 
  • Raymond Lamont-Brown, Kamikaze: Japan’s Suicide Samurai, p.22. 

Conversando sobre artes marciais japonesas - Parte 2

Onegaishimasu!

(^_^)

Como sou praticante de três artes marciais distintas, duas com origem em Okinawa (ou melhor dizendo, Ryūkyū): o Karatedō (Shitōryū) e o Kobudō; e uma com origem japonesa: o Iaidō (para ser mais claro o Musō Jikiden Eishinryū) nada mais normal do que abordar temas que tenham relações com estas artes.

Antes de entrar especificamente na abordagem de qualquer uma das artes é necessário saber algumas coisas para que você consiga acompanhar os "posts", entendendo o porquê uso isso ou aquilo por aqui.

Dois comentários rápidos sobre temas que me parecem ser muito relevantes para que se tenha um trabalho de qualidade: o Nihongo (Língua Japonesa) e os Sistemas de Romanização.

Tabela Hiragana
Não é necessário saber falar japonês para treinar Karatedō, Kobudō ou Iaidō, porém é necessário conhecer os termos básicos que são utilizados nas aulas que, em sua grande maioria, são oriundos da Língua Japonesa. Como todos sabem, os japoneses não escrevem utilizando o nosso alfabeto, mas sim ideogramas e caracteres, ou Kanji e Kana (Hiragana e Katakana).

Quando passamos estes Kanji e Kana para o nosso alfabeto, e buscamos fazer um trabalho sério, devemos utilizar algum Sistema de Romanização oficial. Há pelos menos três processos de romanização, reconhecidos pelo governo japonês, que podem ser utilizados para passar os Kanji e Kana para o nosso alfabeto, dentre eles o mais utilizado pelos ocidentais é o Hebon-shiki ou Sistema Hepburn.

Obviamente, posso, se quiser, escrever de qualquer jeito, conforme meu gosto. Porém, em nível de seriedade e comprometimento necessários a um praticante de artes marciais isso não me parece uma boa escolha. Tomar este caminho, é o mesmo que dizer... “eu sei que há a forma certa de fazer, por exemplo, ‘Gedan-barai’ (também ‘Harai-uke’ ou ‘Harai-otoshi’), mas faço do meu jeito”.
Falar japonês, todos são capazes. Escrever e ler japonês (corretamente)”, nem todos conseguem(YAMAGUCHI, Nagatoshi).
Aprender a escrever japonês é uma tarefa extremamente árdua, pois a escrita japonesa é, como tantos outros aspectos da vida japonesa, um “caminho” a ser percorrido por toda a vida. Porém, reconhecer alguns Kanji relacionados a arte e aprender a escrever os caracteres em Hiragana e Katakana é uma tarefa, relativamente, fácil... bastando para isso dedicar um pouquinho de tempo e ter um mínimo de esforço.

Em uma postagem futura, apresentarei o Sistema Hepburn de romanização e os Kana.

Aos que se interessarem por aprender a escrever os Kana, sugiro que comecem pelos “Katakana” e, depois de aprendidos passem aos “Hiragana”. Existem ótimas apostilas, grátis, na Internet, que mostram a ordem e a trajetória correta dos traços, pois assim como nas artes marciais há uma ordem correta para a execução dos movimentos, também há na escrita japonesa.

Denis Andretta - Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.