terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Conversando sobre artes marciais japonesas - Parte 3

Onegaishimasu!

(^_^)

Conforme me comprometi, hoje apresentarei o Sistema Hepburn de romanização e os Kana.

No entanto, antes de entrar especificamente no tema "romanização", acredito que seja importante saber o que são Kanji, Kana e Rōmaji.

Bom... até o Século V o Japão não tinha qualquer sistema de escrita. Sendo assim, "importou" um sistema da China... conhecido como Kanji, ou 漢字, em japonês.

Separadamente, cada um dos ideogramas significa:
  • 漢  KAN [かん] (cân) - "China";
  • 字  JI [じ] (dji) - "caracteres".
Portanto, a palavra quer dizer:
  • 漢字 KANJI [かんじ] (cândji) - "caracteres da China", "caracteres chineses".
Depois de utilizar os caracteres chineses, na realidade um conjunto específico chamado Man'yōgana, os japoneses criaram dois outros tipos de escrita: o Katakana e o Hiragana que são conhecidos como Kana. O Katakana é o silabário formado por pedaços de Kanji e o Hiragana é a forma cursiva dos ideogramas.

Alguém deve perguntar a esta altura: "O que é um ideograma?"

Ideograma é um...
“Sinal que exprime diretamente uma ideia, como os algarismos, que não representam letra nem som.” (http://michaelis.uol.com.br/) 
“Sinal que exprime a ideia e não os sons da palavra que representa essa ideia.” (http://www.dicionarioinformal.com.br) 
“Sinal gráfico que não exprime nem letra nem som, mas apenas uma ideia.” (http://www.infopedia.pt/) 
“Sinal que exprime a ideia e não os sons da palavra que representa essa ideia (...).”(http://www.dicio.com.br/) 
“Sinal que não exprime som nem articulação, mas ideias.” (http://www.priberam.pt/) 
“Sinal gráfico, símbolo não fonético, que representa um objeto ou exprime uma ideia, e não os sons da palavra (...). Sinal que exprime diretamente a ideia (...).”(http://www.aulete.com.br/)  
“Símbolo gráfico utilizado para representar uma palavra ou conceito abstrato”. (http://estudamosonline.blogspot.com.br/)
Conhecendo a definição de "ideograma" se chega a conclusão de que é um sinal que exprime uma ideia ou conceito abstrato... e que não exprime nem letra nem som.

Mais uma pergunta: "O que é um Sistema de Romanização?"

Um Sistema de Romanização é...
“O método padrão de transliteração japonesa (escrever com um sistema de caracteres) (...) projetado para transcrever os sons do Nihongo (Língua Japonesa) para o Alfabeto Romano. 
Hoje, existem diferentes Sistema de Romanização em uso, incluindo os sistemas Nippon, Kunrei e Hepburn. 
O Sistema Hepburn (Hebon-shiki) foi criado por James Curtis Hepburn (1815-1911), um missionário americano da Filadélfia, que chegou no Japão em 1859 e compilou o primeiro dicionário moderno japonês-inglês, publicado em 1867. Este sistema foi, posteriormente, revisado e chamado de Shūsei Hebon-shiki, versão que algumas vezes é chamada de Hyōjun-shiki. O Hepburn é agora o mais amplamente usado Sistema de Romanização.  
O Sistema Nippon (Nippon-shiki) foi a criação de Tanakadate Aikitsu e foi usado pela primeira vez em 1881 (...). O Nippon-shiki é provavelmente o menos usado dos três sistemas principais. Foi originalmente inventado como um método para os japoneses escreverem a sua própria língua. Segue a fonética japonesa e a ordem silábica rigidamente e é, portanto, o único sistema de romanização que permite a transcrição literal (sem perdas) de e para Kana. 
O Sistema Kunrei (Kunrei-shiki / Monbushō = Sistema do Ministério de Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão) foi promulgado pelo governo japonês, durante a década de 30. Uma versão revisada foi publicada em 1954. O Kunrei-shiki é uma versão do Nippon-shiki ligeiramente alterada que elimina as diferenças entre a grafia do Kana e a pronúncia moderna.” (http://www.acbj.com.br)
A transcrição fonética das palavras japonesas que constam neste Blog segue o Sistema Hepburn de Romanização. 

A versão revisada do Sistema Hepburn de Romanização utiliza o acento mácron[1], uma barra horizontal sobre as vogais, que indica o alongamento desta vogal. A única exceção é o alongamento do "i" que é grafado com duplo "ii".

Consoantes dobradas são pronunciadas como se houvesse uma pequena pausa, como um hífen no meio da palavra. Algumas exceções se dão no caso de "ch" que é lido como "tch" e "sh" que é lido como "x".

O ditongo "ei" é pronunciado "ee".

O símbolo de nasalação conhecido como "un"[2] ("m" ou "n" em português) é sempre grafado "n". 

Uma apóstrofe após um símbolo de nasalação ("n") seguido de vogal ou "y" separa as sílabas.

Deixo aqui tabelas com o Sistema Hepburn e seus respectivos sons:



Notas:

  • “S” tem sempre som de “S”, não muda no meio de vogais como em português.
  • Todo “H” tem som aspirado ou som de “RR”.
  • Todo “R” tem som brando, como em KaRAte.
  • “UN” é som nasal, equivale ao “N” ou “M” em português.



Nota:

  • O “GA” inicial é nasal.



Notas:

  • Todo “H” tem som aspirado ou som de “RR”.
  • Todo “R” tem som brando, como em KaRAte.

Um último comentário...

Cuidado! O Rōmaji é um inimigo!

Se você costuma usar o Rōmaji, alfabeto romano ou latino, para suas pesquisas a respeito de termos japoneses tenha muito cuidado. O principal motivo são as palavras homônimas (palavras que possuem a mesma grafia e a mesma pronúncia) e homófonas (palavras que têm a mesma pronúncia mas que diferem na maneira como se escrevem e no seu significado), existem milhares delas na Língua Japonesa.

Sendo assim, quando deparar-se um com uma palavra japonesa, em Rōmaji, a primeira pergunta a ser feita é “Com qual ou quais Kanji se escreve esta palavra?”... isso irá minimizar muito os erros de aprendizado, assimilação e transmissão de conceitos e traduções.

Denis Andretta, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

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Notas:

[1] Mácron [μακρός] ou macro [μακρός], do grego, makros, significa "grande" e é um sinal diacrítico ( ¯ ) colocado sobre uma vogal originalmente para indicar que esta vogal é longa. Exemplo: ā (= aa), ē (= ee), ō (= oo), ū (= uu). 

[2] De acordo com o sistema de romanização Hepburn, este caractere é expresso com um "n" com til ("ñ"). Contudo, uma vez que este til (~) não faz diferença na pronúncia é mais prático omiti-lo.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Conversando sobre artes marciais japonesas - Parte 2

Onegaishimasu!

(^_^)

Como sou praticante de três artes marciais distintas, duas com origem em Okinawa (ou melhor dizendo, Ryūkyū): o Karatedō (Shitōryū) e o Kobudō; e uma com origem japonesa: o Iaidō (para ser mais claro o Musō Jikiden Eishinryū) nada mais normal do que abordar temas que tenham relações com estas artes.

Antes de entrar especificamente na abordagem de qualquer uma das artes é necessário saber algumas coisas para que você consiga acompanhar os "posts", entendendo o porquê uso isso ou aquilo por aqui.

Dois comentários rápidos sobre temas que me parecem ser muito relevantes para que se tenha um trabalho de qualidade: o Nihongo (Língua Japonesa) e os Sistemas de Romanização.

Tabela Hiragana
Não é necessário saber falar japonês para treinar Karatedō, Kobudō ou Iaidō, porém é necessário conhecer os termos básicos que são utilizados nas aulas que, em sua grande maioria, são oriundos da Língua Japonesa. Como todos sabem, os japoneses não escrevem utilizando o nosso alfabeto, mas sim ideogramas e caracteres, ou Kanji e Kana (Hiragana e Katakana).

Quando passamos estes Kanji e Kana para o nosso alfabeto, e buscamos fazer um trabalho sério, devemos utilizar algum Sistema de Romanização oficial. Há pelos menos três processos de romanização, reconhecidos pelo governo japonês, que podem ser utilizados para passar os Kanji e Kana para o nosso alfabeto, dentre eles o mais utilizado pelos ocidentais é o Hebon-shiki ou Sistema Hepburn.

Obviamente, posso, se quiser, escrever de qualquer jeito, conforme meu gosto. Porém, em nível de seriedade e comprometimento necessários a um praticante de artes marciais isso não me parece uma boa escolha. Tomar este caminho, é o mesmo que dizer... “eu sei que há a forma certa de fazer, por exemplo, ‘Gedan-barai’ (também ‘Harai-uke’ ou ‘Harai-otoshi’), mas faço do meu jeito”.
Falar japonês, todos são capazes. Escrever e ler japonês (corretamente)”, nem todos conseguem(YAMAGUCHI, Nagatoshi).
Aprender a escrever japonês é uma tarefa extremamente árdua, pois a escrita japonesa é, como tantos outros aspectos da vida japonesa, um “caminho” a ser percorrido por toda a vida. Porém, reconhecer alguns Kanji relacionados a arte e aprender a escrever os caracteres em Hiragana e Katakana é uma tarefa, relativamente, fácil... bastando para isso dedicar um pouquinho de tempo e ter um mínimo de esforço.

Em uma postagem futura, apresentarei o Sistema Hepburn de romanização e os Kana.

Aos que se interessarem por aprender a escrever os Kana, sugiro que comecem pelos “Katakana” e, depois de aprendidos passem aos “Hiragana”. Existem ótimas apostilas, grátis, na Internet, que mostram a ordem e a trajetória correta dos traços, pois assim como nas artes marciais há uma ordem correta para a execução dos movimentos, também há na escrita japonesa.

Denis Andretta - Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Conversando sobre artes marciais japonesas - Parte 1

Onegaishimasu!

(^_^)

Espero não desagradar muitas pessoas com as coisas aqui expostas e, em nenhum momento, é minha intenção querer parecer mais capaz ou passar impressão que sei mais que as outras pessoas a respeito das “artes marciais japonesas”... ao contrário, é o não saber que me motiva a pesquisar e, podem acreditar, as pesquisas causam mais dúvidas do que certezas. Como um grande amigo diz: “quanto mais eu cavo, mais vejo o quanto fundo é o buraco”...

Certezas? Nenhuma...

Pesquisas? Muitas!

E baseado em pesquisas podemos ter resultados momentâneos, que podem sempre ser modificados quando se encontra novas informações que possam dar fundamentação para uma nova visão. Não preciso relembrar a todos que muitos dos conceitos antigos, tidos como corretos em outras épocas, hoje nos fazem rir... a tão em moda "terra plana" é um bom exemplo do que o que aqui se afirma.

Há uma frase do mestre Aragão, de Lisboa, Portugal, que me agrada muito:
“Em Karatedō não há enganos: ou é ou não é, se sabe ou não se sabe!”.
Goulart (2009) nos chama a atenção para outro fato importante:
“(...) Existe o certo e o errado no ensino das Artes Marciais. (...) Da mesma forma, existem aqueles instrutores que se preocupam em apresentar informação fidedigna a respeito das artes (...) que ensinam e levam todos os assuntos relacionados com as suas artes (...) de forma séria e responsável, com objetivo de realmente ensinar e apresentar informação pertinente e correta a respeito dos seus estilos (...) (GOULART, 2009).
Reflexão verdadeira...

Não é novidade para ninguém que a maioria das pessoas que pratica o Karatedō não dá a mesma importância para a prática e a teoria, chegando, por vezes, a ridicularizar aqueles que o fazem... contradizendo um dos princípios básicos da cultura japonesa... que é, desde os tempos dos Samurai, manter a “pena a e espada” em harmonia. Ou seja, manter o justo equilíbrio entre a teoria e a prática. A este conceito os japoneses chamam “Bunbu-ichi”.

Vejamos alguns trechos escritos por dois Hanshi da Dai Nippon Butoku-kai que tratam do tema:
“É dito, há muito tempo, que a pena e a espada são como as duas rodas de uma carroça e as duas asas de um pássaro. Consequentemente, elas pertencem a um único conceito de virtude universal e são naturalmente inseparáveis. [...] A “pena” são os meios [...] através dos quais as pessoas cultivam e nutrem as cinco principais virtudes: benevolência, dever, lealdade, piedade filial e amor. A “espada”, por outro lado, são os meios através dos quais as pessoas defendem e restauram tais virtudes quando julgarem que isso é inevitável. [...] “A pena e a espada” são fundamentalmente os mesmos ideais filosóficos que estão em dependência direta um do outro. Esperamos que as pessoas que seguem o Budō desenvolvam e cultivem os seus próprios caracteres e contribuam de forma decisiva para a educação moral das suas nações.” (ŌGATA; HAMADA)
Então, se “a pena e a espada são como as duas rodas de uma carroça e as duas asas de um pássaro” nos dias atuais, sobretudo no ocidente, temos visto muitas carroças e se arrastarem e muitos pássaros que já não voam, visto que apenas a “espada”... a “prática” tem sido valorizada.

Não com denotação religiosa, mas sim com conotação de sabedoria proposta por Siddhartha Gautama, o Buddha, o “caminho do meio”... o equilíbrio é sempre a melhor maneira.
"(...) Siddharta (...) praticava o ascetismo rigoroso. (...) Desgastado, e vendo seu organismo em estado de quase completa inanição,  percebeu que práticas tão austeras não surtiam o efeito que imaginava. (...) Quando desistiu da vida completamente ascética, (...) lhe ocorreu a noção do Caminho do Meio, primeiro dos seus ensinamentos. Segundo a lenda, um dia, Gautama, ouviu um pai ensinar ao filho como funcionavam as cordas de um instrumento musical. O homem explicava que cordas frouxas impediriam a reprodução do som; porém, quando apertadas demais, elas arrebentariam." (http://www.triada.com.br)
Assim, e somente assim, há a possibilidade de evitar enganos e conseguir saber, de fato, sobre a arte que praticamos. Vamos lá, então, consertar a roda da nossa carroça... curar a asa do nosso pássaro ferido... e achar o caminho do meio!

Denis Andretta - Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.